por: Carolina Cecatto
Quem aqui nunca leu um gibi da Turma da Mônica pra se entreter? E quem aqui nunca saiu com um riso após ler essas HQ’s?
A Turma da Mônica foi criada por Mauricio de Sousa em 1959. De lá pra cá os personagens do cartunista sofreram mudanças em seus traços, mas seus trejeitos sempre foram constantes.
Digo isso, porque li há uns meses, um artigo do Dioclécio Luz, do site Observatório de Imprensa, que me fez refletir sobre o ponto de vista dele e, consequentemente, discordar. Se vocês quiserem/tiverem um tempo podem ler aqui o tal artigo.
Ao discordar, num primeiro instante, perguntei-me inclusive o que me fazia ficar ali e perder meus bons minutos lendo um artigo que chafurdava na lama a principal HQ da minha infância. E assim foi: aquele artigo serviu-me de apoio para argumentar pontos favoráveis às HQ’s de Mauricio de Sousa. Vou falar por que é legal ler A Turma da Mônica e, para tal intento, vou contrapor o que li no artigo do Dioclécio.
A Mônica, a dona da rua, foi mencionada pelo já citado resenhista como sendo de comportamento extremamente violento, capaz de incentivar de maneira péssima as crianças que leem as HQ’s. Se por um lado temos esta faceta, é necessário observar até que ponto se dá esta influência: exemplos de casa vistos pela criança ou mesmo na escola podem ser determinantes. Tirando este fator, deve-se pensar um pouco além daquilo que se vê: o fato de uma criança acompanhar, por mais incrível que possa parecer, algumas cenas de violência num gibi – levando-se em consideração as adequações de faixa etária – serve de canal no qual a criança encontra um jeito de externar toda a sua raiva e repressão, sem precisar, para isso, descontar fisicamente num colega de escola. O gibi serve pra canalizar, focar essa energia que a criança carrega. Ao ler, parte dessa energia se esvai na leitura. Lindo, não? (Devo estas informações ao professor Reynaldo Damázio, num curso de HQ’s que fiz com ele).
Sobre a Magali, foi dito sobre o estigma de comilona. Tudo bem, isso é fato. Agora, como eu já disse, ficar no superficial não satisfaz. Bem, a Magali não é só uma garota que come e não engorda. Não é uma personagem que instiga a obesidade infantil. Ela incentiva a criança a comer. Prova disso é que a personagem ainda faz campanha junto com a mãe do Dudu para que ele se alimente. Quer uma personagem mais legal para os pais usarem de exemplo na hora de alimentar uma criança? A gente bem sabe como é difícil entreter algumas crianças na arte da comida.
Outro personagem que foi citado, o Chico Bento, merece algumas observações. Chico foi colocado como sendo uma personagem vista por um aburguesado, a visão que este tem do campesinato. À parte dos termos bem ligados ao socialismo, vamos entrar na questão linguística e, no bom clichezão, tentar ampliar os horizontes. Chico Bento é uma personagem que mostra esse meio rural, de forma caricatural sim, mas entendo que Mauricio, ao criá-lo, quis mais aproximar aquela realidade do que satirizar ou simplesmente rotular o meio rural. E, como disse antes, a questão linguística, no caso, a variante linguística que nos é apresentada vem também como forma de aproximar, dizer que mesmo nos muitos dialetos, podemos nos comunicar, salvo algumas expressões locais, é claro. É uma forma de tirar certos preconceitos linguísticos e também de conhecer um pouco mais dos vários tipos de falantes nesse nosso Brasil.
O gibi de Mauricio calha muito bem nesse sentido, inclusive recomendo altamente ser utlizado em sala de aula para atividades, se possível. Quando a gente analisa esta nona arte, precisamos expandir o pensamento. Se você presencia uma criança que curte leituras como essa, pode ter certeza que não é só porque a Mônica é violenta, ou porque a Magali é comilona e o Chico Bento é só um ícone do olhar burguês sobre o homem do campo. Há muito mais camadas por se descobrir. Algumas citei. Outras, cada leitor poderá descobrir por si.
Antes que me esqueça: outro motivo que me fez escrever aqui foi porque, depois de muito tempo, voltei a ler os gibis da Turma da Mônica. Parte se deve à tumblr do Porra Mauricio. O site sacaneia as tirinhas do gibi, mas é engraçado – e o melhor: Mauricio de Sousa curtiu. Depois desse site muita gente, fiquei sabendo, voltou a comprar seus gibis.
Pra fechar parcialmente a questão, tenho que fazer minhas vezes de fã, de leitora que adora HQ’s da Turma da Mônica e que entende que a gente quando se afinca numa leitura é porque ali tem muito de nós, simples assim. O legal da Arte é se fazer caleidoscópica. É por essas e outras que vemos muitas interpretações, algumas às vezes muito taxativas (não trabalha com possibilidades), o que enfraquece a análise. Maravilha também é perceber outra coisa que a Arte deixa no rastro: repercussão e olhares distintos.