Feeds:
Posts
Comentários

Posts Tagged ‘Literatura (textos soltos)’

Cantiga de D. Dinis, o Rei Trovador

“Ai senhor fremosa, por Deus”

01 Ai senhor fremosa, por Deus,

02 e por quam boa vos El fez,

03 doede-vos algũa vez

04 de mim e destes olhos meus,

 

05 que vos virom por mal de si,

06 quando vos virom, e por mi.

 

07 E, porque vos fez Deus melhor

08 de quantas fez, e mais valer,

09 querede-vos de mim doer

10 e destes meus olhos, senhor,

 

11 que vos virom por mal de si,

12 quando vos virom, e por mi.

 

13 E, porque o al nom é rem

14 senom o bem que vos Deus deu,

15 querede-vos doer do meu

16 mal e dos meus olhos, meu bem,

 

17 que vos virom por mal de si,

18 quando vos virom, e por mi.

(CBa 529, 526)

Iluminura medieval que retrata os mistérios do Amor Cortês.

Iluminura medieval que retrata os mistérios do Amor Cortês.

Possíveis comentários:

O trovador roga à amada que tenha compaixão dele e dos seus olhos. A temática de “Ai senhor fremosa, por Deus” delimita-se, portanto, no campo da visão, sentido muito citado em toda a lírica trovadoresca. O trovador suspira, invocando mais uma vez a divindade para tentar abrandar o insensível coração de sua senhor. Apesar desse apelo a Deus (artifício do poema medieval, como já dissemos), podemos perceber um aspecto sensual que permeia toda a cantiga.

Na primeira cobra, o eu lírico suspira por sua dama, a mais bela dentre as mulheres (versos 1, 2, 7 e 8), expondo imediatamente seu drama. Ele sofre desde o aziago dia em que a viu (refrões). O poeta, cogitando a possibilidade de sua amada se condoer pela sua dor (verso 3), explica que a causa de “seu mal terrível” provém do ser amado. A crise do trovador se intensifica à medida que ele deseja ser perdoado pela sua amada, que se configura como impassível, sans merci.

Percebemos, dessa maneira, uma possível dicotomia: “bem” x “mal”. A dama “e por quam boa vos El fez” é belíssima e,  configura-se como o Bem Supremo do trovador, o próprio amor (sua origem e seu fim). Concomitantemente, a mulher cumpre o papel de agente da dor do poeta, agente maléfico, portanto. O motivo do sofrimento do trovador (o momento em que vê sua amada) também é duplo: os olhos, enquanto veículo do amor, vislumbram a beleza inebriante da dama, tal como se vislumbrassem a aurora (ousamos a comparação, apoiando-nos na concepção da beleza medieval, de caráter canônico). O impacto da visão da mulher ideal é tamanho que o poeta não hesita em admirá-la; seus sentidos se aguçam e ele entra no perigoso jogo do desejo; finalmente preso às tramas da paixão, o poeta se mantém inerte, ludibriado pelos encantos sobrenaturais da senhora, a quem se coloca como vassalo amoroso.

Haja vista a cantiga não possuir diálogos, dada a sua estrutura formal, percebemos que, apesar de enfeitiçado pela beleza erótica feminina e torturado pelo seu desejo visivelmente carnal, o eu lírico se mantém alerta, como se ensaiasse uma fala a sua senhora.  A segunda estrofe corrobora essa afirmação. Nela, pois, o trovador elogia sua suserana, usando as mesmas qualidades do elogio para rogar sua atenção. Sendo a dama tão boa e tão bela, como renegar o amor de seu pretendente?

O tom elegíaco da cantiga continua na terceira cobra. O trovador usa de seu talento para lidar com as palavras, ratificando a beleza da amada, bem como sua bondade, com a condição que ela se condoa dele, e mais: aceite suas súplicas mais pulsantes e carnais, portanto (versos 14 e 15).

A cantiga é composta por 3 cobras, tendo o talho como estrutura estrófica.  Há 18 versos, todos decassílabos agudos (excetuando os versos 1 e 4 que são graves). Há enjambement entre os versos 3 e 4, 7 e 8, 9 e 10, bem como entre os 15 e 16. As rimas são interpoladas (ABBA) nas cobras e paralelas (AA) nos refrões, todas são finais e consoantes; ricas nas 1ª e 3ª cobras e pobres na 2ª estrofe e nos refrões. Há cesura nas quartas sílabas de todos os versos.

♦Nathaly Felipe Ferreira Alves♦

Read Full Post »

Genial no trato com as palavras - Machado de Assis

Genial no trato com as palavras - Machado de Assis

Havia prometido postar um capítulo do trabalho que eu e Lucas havíamos confeccionado em 2008. O título de nosso trabalho foi: “AS FAMÍLIAS SANTIAGO E PÁDUA:ENTRE PODERES, BARGANHAS E VAIDADES”.

Nesta nossa pesquisa sobre Dom Casmurro de Machado de Assis, buscamos analisar o lado sócio-político econômico das famílias Santiago e Pádua. Analisamos também a influência da transição histórica no contexto das famílias e das personagens.

Usamos em nosso texto das palavras de um dos estudiosos da obra machadiana, Roberto Schwarz, que muito nos ajudou a entender o lado político-social da obra.

E eis um de nossos capítulos. Lembramos que aqui está nosso parecer sobre o livro, pois sabe-se que esta obra é de assuntos inesgotáveis e de intertextualidades infinitas.


O DEVEDOR E O SANTO CREDOR

A religião tinha enorme importância no núcleo das famílias da época. No entanto é importante apontar que, pertencer à igreja católica, era um grande sinal de prestígio perante a sociedade. É o que constata a fala de José Dias: “…E depois a igreja brasileira tem altos destinos. Não esqueçamos que um bispo presidiu a Constituinte, e que o padre Feijó governou o império…” (MACHADO DE ASSIS, 2001, p. 18). Aqui, percebe-se a influência exercida pela Igreja, inclusive no próprio momento político brasileiro. A fala a seguir, pertencente a José Dias, só vem a confirmar a influência política da Igreja e o orgulho de se pertencer a ela: “…o que eu quero dizer é que o clero ainda tem grande papel no Brasil…” (MACHADO DE ASSIS, 2001, p. 18).

A promessa para Deus é uma relação deveras presente em Dom Casmurro. A primeira promessa de que temos conhecimento, se dá nos primeiros capítulos, é feita por Dona Glória, que pretende tornar o filho padre. Contudo, esta promessa titubeia muitas vezes, pois Dona Glória ainda reluta em deixar seu filho partir. A mãe de Bento promete a Deus que o enviará caso este vivesse, mas busca negociar com Deus as condições para que esta promessa se molde de maneira que ela não macule a fé que possui e possa ter o filho para si, numa atitude de possessividade e negociação, e não de doação completa e incondicional, como seria de se esperar de um cristão.

Bentinho age de forma semelhante, a diferença é que suas promessas feitas a Deus são sempre acumuladas, mas nunca cumpridas.  No caso dele, há um intento de sempre negociar e de presumir que será perdoado. Quando em situação de aperto, recorre ao divino:

– Prometo rezar mil padre-nossos e mil ave-marias, se José Dias arranjar que eu não vá para o seminário.

A soma era enorme. A razão é que eu andava carregado de promessas não cumpridas. (…) Deus podia muito bem, irritado com os esquecimentos, negar-se a ouvir-me sem muito dinheiro…

(MACHADO DE ASSIS, 2001, p.40)

Ainda:

… fazê-lo [a Deus] renunciar ao pagamento da minha promessa. Jeová, posto que divino, ou por isso mesmo, é um Rothschild muito mais humano, e não faz moratórias, perdoa as dívidas integralmente, uma vez que o devedor queira deveras emendar a vida e cortar nas despesas. (grifos do autor)

(MACHADO DE ASSIS, 2001, p.103)

Sempre que faz referências a Deus, direta ou indiretamente, Bento o trata como um banqueiro, como advogado, como tabelião, todas estas profissões liberais – já há indícios de um frio Casmurro inculcado no jovem, como a “fruta dentro da casca”; as conversas são transações financeiras e a quantidade de rezas são valores monetários que podem vir a ser cambiados, acumulados e saldados pela misericórdia divina, estabelecendo aí uma relação capitalista com Deus.

Em uma leitura ampla, fica claro que Bento, assim como os demais são produtos de um ambiente vaidoso e hipócrita, onde as aparências dão as cartas do jogo. A primeira esfera de educação nesses moldes é a da família, conforme o exemplo da mãe, e, lato sensu, a da sociedade, que vivencia esse jogo, onde há “…a religião frouxa, pouco interiorizada, dando cobertura a toda a sorte de interesses menos católicos etc.” (SCHWARZ, 1997, p.28).

CAROLINA CECATTO

Read Full Post »

Dados biográficos de Victor Hugo

“A medida do amor é amar sem medida”

            Victor Hugo, autor de Os miseráveis e O Corcunda de Notre Dame, entre outros clássicos da literatura mundial, era filho de Joseph Hugo e de Sophie Trébuchet. Nasceu em Besançon, mas passou a infância em Paris.

Em 1819 fundou, com os seus irmãos, uma revista, o Conservateur Littéraire (Conservador Literário), mesmo ano em que ganhou o concurso da Académie des Jeux Floraux, instituição literária francesa fundada no século XIV.

Aos 20 anos o escritor publicou uma reunião de poemas, Odes e Poesias Diversas, utilizada como prefácio de sua peça teatral Cromwell (que o projetou como líder do movimento romântico na França).

Victor Hugo casou-se com Adèle Foucher e durante sua vida teve diversas amantes, sendo a mais famosa Juliette Drouet, atriz sem talento, a quem ele escreveu numerosos poemas.

O período 1829-1843 foi o mais produtivo da carreira do Intenso Romântico. Seu grande romance histórico, Notre Dame de Paris – mundialmente conhecido como O Corcunda de Notre Dame – (1831), conduziu-o à nomeação de membro da Academia Francesa, em 1841.

Criado no espírito da monarquia, o escritor acabou se tornado favorável a uma democracia liberal e humanitária. Eleito deputado da Segunda República, em 1848, apoiou a candidatura do príncipe Luís Napoleão, mas se exilou após o golpe de Estado que este deu em dezembro de 1851, tornando-se imperador. Hugo condenou-o vigorosamente por razões morais em Histoire d’un Crime.

Durante o Segundo Império, em oposição a Napoleão 3o, viveu em exílio em Jersey, Guernsey e Bruxelas. Foi um dos poucos a recusar a anistia decidida algum tempo depois.

A morte da sua filha, Leopoldina, afogada por acidente no Sena, junto com o marido, fez com que o importante autor se deixasse levar por experiências espíritas, relatadas numa obra Les Tables Tournantes de Jersey (As Mesas Moventes de Jersey).

A partir de 1849, Victor Hugo dedicou sua obra à política, à religião e à filosofia humana e social. Reformista, desejava mudar a sociedade, mas não mudar de sociedade.

Em 1870, retornou a França e reatou sua carreira política. Foi eleito primeiro para a Assembléia Nacional, e mais tarde para o Senado. Não aderiu à Comuna de Paris defendeu, no entanto, a anistia aos seus integrantes.

De acordo com seu último desejo, foi enterrado em um caixão humilde no Panthéon, após ter ficado vários dias exposto sob o Arco do Triunfo.

 

  

♦Nathaly Felipe Ferreira Alves♦

Read Full Post »

Poesia1

 

Você já se perguntou sobre o que é Poesia?

P O E S I A ! Poesia é tudo aquilo que você enxerga como poesia. Para alguns essas letras maiúsculas são apenas letras, para outros é um recurso de expressividade. Sim, Poesia tem a ver com Estilo. E Estilo cada um tem o seu. Estilo tem a ver com a emoção, com o apelo sensorial transmitido por meio das palavras. Palavras que se tornam uma coisa viva, palavras que choram e que riem.

A Poesia nasce da alma, da inspiração. Há quem diga que seja “transpiração” e não “inspiração”, mas sem esta o que seria? Um amontoado de palavras? Não. A Poesia é altamente expressiva, e não apenas vocábulos, seu sentido transcende ao do signo significante.  Até mesmo João Cabral de Melo Neto, primo de Manuel Bandeira, precisava de uma inspiração e a inspiração dele era a folha branca. Ele escrevia numa folha branca e, quando ficou cego, não mais conseguia escrever e nem ao menos ditar os poemas. Cada artista, tem a sua inspiração. Uns precisam do sentimento, das experiências, das dores, das imagens e outros da folha branca!

Vejamos o Haikai, por exemplo, um poema haikai sem uma imagem não é nada, não é haikai. Para pertecer a esta classificação precisa ser “inspirado” numa imagem.

Mas você pode me perguntar: E a técnica? E os sonetos decassílabos de Camões?

Oras! A técnica é adquirida, é o estudo, é o esmero, é o esforço, mas a técnica não “vive” sozinha. De nada adiantaria ecsrever um poema com “n” técnicas sem o sabor da inspiração. De onde vem os temas? Da inspiração!

Primeiro, rascunha-se, anota-se, depois a técnica entra em questão. Se for o desejo do poeta, é claro. Há alguns que não revisam suas obras, para não lhes tirar o gosto profundo…

Paula Cristina

Read Full Post »

♦ Diplomata, erudito, humanista e poeta Francesco Petrarca ( 1304 –  1374) apresenta a multifacetação do período transitório em que viveu (configurando-se como um dos últimos homens da Idade Média e um dos primeiros indivíduos a quem podemos denominar “modernos”). Por meio de seu lirismo amoroso (encarnado na figura de Laura, mulher concreta, diferente da amada de Dante, Beatriz), Petrarca destaca a figura humana não como uma mera “criatura”, mas como um verdadeiro indivíduo que possui suas próprias vontades e que imprime no universo em que reside a sua própria psicologia.

♦ Sua poesia apresenta, porém, nuances neoplatônicas no que concerne à temática do amor e… com um pouco de ousadia, podemos supor que o pesar sentido em alguns momentos de sua obra sejam “indicadores” de um futuro sentimento romântico (fortemente melancólico e individualista em determinadas estruturas).

Dolce stil nuovo: a partir deste conceito que aparece na Divina Comédia, Petrarca cria um novo tipo de poema. A insuperada forma do soneto italiano… representante da “modernidade” na poesia de cunho amoroso.

♦ Nossa comum-unidade: o estilo de Petrarca, bem como sua expressão lírica expressam ao longo dos séculos o que Alexei Bueno chamaria de “nossa sensibilidade poética ocidental”.

♦ Tentemos imaginar o que seria do nosso Camões ou mesmo de um Sá de Miranda… dos maneiristas ingleses, ou do Siglo del Oro espanhol sem a influência deste poeta e humanista italiano… Como se configuraria determinados momentos da expressão lírica ocidental?

    Para apreciação…

    Soneto XXII

     

    S’ amor non è, che dunque è quel ch’ io sento?
    Ma s’egli è amor, per Dio, che cosa e quale?
    Se buona, ond è effetto aspro mortale?
    Se ria, ond’ è si dolce ogni tormento?
     
    S’a mia voglia arado, ond’ è ‘I pianto e ‘I lamento?
    S’a mal mio grado, il lamentar che vale?
    O viva morte, o dilettoso male,
    Come puoi tanto in me s’io nol consento?
     
    E s’io ‘I consento, a gran torto mi doglio.
    Fra sì contrari venti, in frale barca
    Mi trivo in alto mar, senza governo,
     
    Sí lieve di saber, d’error sí carca,
    Ch’ i i’ medesmo non so quel ch’ io mi voglio,
    E tremo a mèzza state, ardemdo il verno.

     

    Soneto XXII
     
    Se amor não é qual é este sentimento?
    Mas se é amor, por Deus, que cousa é a tal?
    Se boa por que tem ação mortal?
    Se má por que é tão doce o seu tormento?
     
    Se eu ardo por querer por que o lamento?
    Se sem querer o lamentar que val?
    Ó viva morte, ó deleitoso mal,
    Tanto podes sem meu consentimento.
     
    E se eu consito sem razão pranteio.
    A tão contrário vento em frágil barca,
    Eu vou para o alto mar e sem governo.
     
    É tão grave de error, de ciência é parca
    Que eu mesmo não sei bem o que eu anseio
    E tremo em pleno estio e ardo no inverno.

         

       (Petrarca e Laura)

     

     

    Consultas:

    a sites:
     a livros:
     Petrarca, Poemas de Amor (O cancioneiro)/ Apres. Alexei Bueno; trad. Jamil A. Haddad – RJ: Ediouro, 1998.
     
     
     
    Post publicado por: Nathaly Felipe Ferreira Alves

Read Full Post »

A Educação em Dom Casmurro.

 A partir de hoje, faremos uma série de post’s  sobre os livros da FUVEST 2010. O intuito desta série e colaborar, ainda que minimamente, com esclarecimentos sobre o livro, talvez, sobre uma ótica diferente das encontradas na Internet. Em suma, não se pretende aqui fazer um mero resumo das obras escolhidas pelo maior vestibular do país. Este post, em específico, são as minhas considerações a respeito do trabalho acadêmico feito em 2008 pelos  graduandos de Letras do CUFSA (Gerda/Raul/Paula/Denis) sobre a obra Dom Casmurro de Machado de Assis, inserida dentro do realismo brasileiro, pela a ótica da educação de Bento Santiago.

Os alunos escolheram trabalhar com a ideia de uma tríade educacional: família, religião e os estudos –incluído, neste último, a leitura; como veremos a seguir. Além disso, trabalharam também considerando que a personagem principal teve na verdade três personalidades distintas ao longo do enredo, sendo: Bentinho, Bento Santiago e Dom Casmurro. A infância e adolescência na primeira fase como Bentinho; a vida adulta, em sua fase de matrimônio com Capitu, como Bento Santiago; a velhice solitária do terceiro momento como Dom Casmurro, o narrador.

A primeira grande questão em Dom Casmurro é porque um velho solitário resolve escrever a história de sua vida?  Devemos questionar os motivos que o levaram a tal atitude, principalmente por conta da situação, pois não há, ninguém para contestar as informações dadas, já que todos já foram para  a outra Europa, como disse José Dias ao se referir aos mortos.

 Bentinho cresceu num lar religioso, mas de uma religião não tão correta e carola como o narrador Casmurro tenta nos passar. Talvez a influência de sua mãe ao não cumprir com a promessa feita, seja a responsável pelas incontáveis promessas não cumpridas de Bentinho, além das tentativas de negociar com Deus.

 Bento “herda” não só a profissão, como a comilança do tio Cosme, “Vi que, em meio da crise, eu conservava um canto para as cocadas”.  Da Tia Justina ele absorveu o jeito de manipular as histórias, “…dizia francamente a Pedro o mal que pensava de Paulo e a Paulo o mal que pensava de Pedro…”. Afinal foi isso que ele fez com Capitu ao nos lançar o possível adultério. Da mãe herdou a insegurança; enquanto ela precisava do irmão, do padre, da prima para confirmar suas decisões, Bentinho precisa de José Dias. Este inclusive é aquele que tem maior influência sobre a educação de Bento, segundo Helen Caldwell em seu livro  O Otelo brasileiro de Machado de Assis, é depois dos comentários de José Dias sobre os olhos de Capitu que Bentinho manifesta suas primeiras intenções amorosas (ou seriam tensões sexuais?).

 Por fim os estudos e leituras; há no livro 128 citações de personalidades, frases célebres e localidades. Isso mostra que ao longo dos anos Bentinho/Bento/Casmurro absorveram ensinamentos que marcaram suas atitudes. Logo no início temos uma citação de Fausto que é talvez uma das chaves para desvendar o mistério da pergunta feita no início deste post. Há, no entanto, três outras passagens que julgo de grande importância, são elas:

 1-     Lúcio Domício Nero Cláudio, Imperador que  colocou fogo em Roma e enquanto as labaredas estalavam, ele tocava harpa. Vejo em Dom Casmurro a influência, quando é informado sobre a morte do filho por lepra: “Apesar de tudo, jantei bem e fui ao teatro”.

 2-     Pôncio Pilatos, Governador da Judéia, lembrado por ter entregue Jesus, mesmo acreditando que ele não era culpado, á morte: “…tomando a água, lavou as mãos diante da multidão e disse: estou inocente do sangue deste inocente…”(MATEUS 27: 25). A influência em Dom Casmurro neste caso se dá também em relação ao filho, pois no final o rapaz, acaba falecendo devido a uma febre tifóide e o “filho do homem” acabou por ser enterrado nas imediações de Jerusalém. Há aqui um explícito caso de intertextualidade com as escrituras: “Não houve lepra, mas há febres por essas terras…Onze meses depois, Ezequiel morreu de uma febre tifóide, e foi enterrado nas imediações de Jerusalém” Ele entregou ao filho para morte, como Pilatos entregou Jesus.

 3-     Há também outra menção, de Miguel Montaigne, que viveu no século XVI, e foi um dos mais importantes escritores franceses de seu tempo. A citação: “Ce ne sont pas mes gestes que j’escris, c’est moi, c’est mon essence”(ASSIS, 1967: 122). Cuja tradução seria: “Não são minhas ações que descrevo, é o meu eu, a minha essência”, ou seja, aquilo que é descrito não é a verdade de suas ações, é a descrição da essência de Bentinho que está nas palavras de Dom Casmurro.

 O assunto é longo, seriam necessárias as mesmas 30 páginas (talvez mais) que o grupo de alunos utilizou, contudo há acima uma breve explanação das influências na educação de Bento. Além do mais, há inúmeras possibilidades de se analisar esta obra, essa é apenas uma pequena parte de uma destas possibilidades, portanto deixo algumas dicas de livros para os interessados em se aprofundar no assunto.

 (Denis Silva)

AGUIAR, Luiz Antonio. Almanaque Machado de Assis: a vida, obra, curiosidades e bruxarias literárias. Rio de Janeiro: Record, 2008.

BOSI, Alfredo. O Enigma do Olhar.São Paulo: Ática, 2003.

CALDWELL, Helen. O Otelo Brasileiro de Machado de Assis. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002.

CANDIDO, Antonio.  Vários Escritos. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul | São Paulo: Duas Cidades, 2004.

SCHWARZ, Roberto. Ao Vencedor as Batatas. São Paulo: Duas Cidades, 1988.

Read Full Post »

Prometeu Acorrentado trata-se de uma tragédia grega escrita por Ésquilo. Disponível em: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/prometeu.pdf

Prometeu Acorrentado

Prometeu Acorrentado

Ésquilo nasceu em Atenas, em Elêusis, por volta de 525 A. C.. suas obras renderam-lhe fama e honrarias. Das sete que se conhecem uma das mais grandiosas pelo tema que focaliza é Prometeu Acorrentado.
Júpiter ao tornar-se deus supremo cogitava conservar a espécie humana na condição de animalidade irracional ou senão destruí-la, contrariando-o, Prometeu apodera-se do fogo celeste (sagrado) que dotou o homem da razão e da faculdade de cultivar a inteligência, as ciências e as artes.
Como punição, Júpiter ordena que Prometeu seja acorrentado no Cáucaso e ali permaneça a menos que consinta a revelação do futuro,(que era um dom de Prometeu) a fim de evitar sua ruína como a de Cronos (Saturno) seu pai.
Prometeu é acorrentado por Vulcano e fiscalizado pelo Poder que se mostra cruel e insensível ao contrário de Vulcano que se mostra penalizado pela tortura que Prometeu estará sujeito, e que por ser um deus significa ser seu parente.
Vão lhe visitar as Ninfas, filhas do Oceano, este último tenta o ajudar, mas Prometeu recusa sua ajuda com a finalidade de poupar-lhe a vida.
Por fim aparece Mercúrio, filho de Júpiter, e tenta arrancar os segredos de Prometeu, e, como nada consegue avisa que os abutres virão comer o fígado imortal do deus aprisionado.

Prometeu acorrentado é a primeira parte de uma trilogia da qual se perderam as outras. Perda lamentável, pois não nos permite conhecer todo o significado dessa tragédia em que um deus se vê condenado por ter sido um benfeitor a Humanidade.

PAULA CRISTINA

Read Full Post »

Older Posts »